O
aprendizado da escrita alfabética tomada
como
um sistema notacional: compreendendo
as
propriedades do sistema e memorizando/
automatizando
suas convenções
Apesar de muitas
vezes serem levados apenas a copiar e a memorizar coisas, os alfabetizandos –
crianças, jovens ou adultos –
pensam. Sim,
enquanto, por exemplo, estão copiando e memorizando os traçados das palavras ou
sílabas que lhes são apresentadas, vão realizando, solitariamente, todo um
trabalho cognitivo, interno, de resolução de um enigma: desvendar como a
escrita alfabética funciona. E finalmente, um dia, para surpresa de quem só lhe
pedia para copiar e repetir coisas dadas prontas, acontece algo aparentemente misterioso:
o aluno começa a entender como as letras se combinam e passa a escrever de um
modo bem próximo do convencional. É preciso percebermos, contudo, que essa
conquista não é obra de nenhuma entidade ou espírito especial que “baixasse”. Quando
deixamos o aluno expressar espontaneamente suas ideias sobre como se escreve, verificamos
que o “estalo” mencionado por muitos professores não se dá de uma hora para
outra, mas é fruto de uma trajetória.
Para desvendar esse
enigma, o aprendiz vai ter que compreender as propriedades do sistema
notacional com o qual está se defrontando. Isso implica compreender
(reconstruir mentalmente):
1) que se escreve com
letras, que as letras não podem ser inventadas, que para notar as palavras de
uma língua existe um repertório finito (26, no caso do português); que letras,
números e outros símbolos são diferentes;
2) que as letras têm
formatos fixos (isto é, embora p, q, b e d
tenham o mesmo
formato, a posição não pode variar, senão a letra
muda); mas, também
que uma mesma letra tem formatos variados (p é também P, P, p, P,
p, etc.), sem que elas, as letras, se confundam;
3) quais combinações
de letras estão permitidas na língua (quais
podem vir juntas) e
que posição elas podem ocupar nas palavras (por exemplo, Q vem sempre junto de
U e não existe palavra terminando com QU em português);
4) que as letras têm
valores sonoros fixos, convencionalizados, mas várias letras têm mais de um
valor sonoro (a letra O vale por /ó/,
/õ/, /ô/ e /u/, por
exemplo) e, por outro lado, alguns sons são notados por letras diferentes (o
som /s/ em português se escreve com S, C, SS, Ç, X, Z, SC, SÇ, etc)
Como tem enfatizado
Ferreiro (1985, 1989, 2003) compreender o
funcionamento das
letras implica dominar uma série de propriedades “lógicas” da notação escrita.
Artur Gomes de Morais
(professor
do Centro de Educação da UFPE)
Vale a pena ver: Vídeo tutorial sobre APROPRIAÇÃO DO SISTEMA ALFABÉTICO
FONTE:https: //www.youtube.com/watch?v=Ne0ImYjWuf8
Nenhum comentário:
Postar um comentário